18/11/2014

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Hoje pensei que no fundo não passa de uma reorganização. Tudo saiu de um lugar e se acomodou em outro, só isso. Antes era mais fantasioso, o meu olhar, acho. Daí eu criava metáforas e metáforas e ia dançando querendo dizer coisas, tantas coisas que não aquilo ali que eu já estava dizendo. Nessa fase SEGUINTE não é mais assim. Fase mais realista. Tudo muda tudo. Então pensei que o que eu faço agora é iluminar essa reorganização, e aceitar que se aquieta a vontade de dizer alguma coisa. 

16/11/2014

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Outra do Zé

A partir de que momento se pode dizer que tal movimento dançado começa, se é verdade que em certo sentido não pode comportar começo, uma vez que já está por inteiro no instante que precede o desdobrar-se dos gestos dançados?

Não se trata, aqui, de uma questão de técnica motriz ou de um problema de dinâmicas dos fluxos de energia nervosa. É antes uma questão de escala de percepção: o repouso ( ou o primeiro movimento) oferece-se numa macro percepção, ao passo que a micropercepção não encontra senão movimento.

(Movimento Total - O Corpo e a Dança)

11/11/2014

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É um pouco contraditório assumir uma experiência pessoal como estímulo para minha criação e dizer que não falo só do próprio umbigo. Mas eu assumo e falo. E não me livro do umbigo, só isso. Disso aí que você tem na barriga, que eu tenho na barriga e que escancara a relação que temos com alguém. Entre a gente, quem sabe?

09/11/2014

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Do Zé, José Gil, quase um trava língua.

Se a consciência integra o sistema-corpo, agindo sobre ele age sobre si mesma: é por isso que o movimento dançado age sobre a consciência, suscitando essa "consciência inconsciente" que caracteriza o estado de consciência do bailarino. Trata-se de "libertar o corpo" entregando-o a si próprio: não ao corpo-mecânico nem ao corpo-biológico, mas ao corpo penetrado de consciência, ou seja ao inconsciente do corpo tornado consciência do corpo (e não consciência de si ou consciência reflexiva de um "eu").


(Movimento Total - O Corpo e a Dança)



04/11/2014

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Já há algum tempo carrego comigo a sensação de não parar nunca. Um cansaço de água que vai sem volta. Acho que o lance é fazer desta situação um motor ativo e ir adiante. Renovando. E se o José Gil diz que “O espaço do corpo é o corpo tornado espaço”, e se a Hilda Hilst diz que “Tu não te moves de ti”, é preciso ser explodido, ter fronteira translúcida entre um dentro e um fora. Sempre penso nisso.

03/11/2014

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Aqui o artigo que saiu na revista Superinteressante por causa do filme 21 Gramas, citado no post passado. Ao que tudo indica, o estudo do cientista era uma furada, mas rendeu inspiração para a ficção, inegavelmente. Lembrei dele porque meu filho quando nasceu estava na casa dos gramas, ou seja, mais próximo do peso da alma, segundo essa loucura toda.


O peso da alma
por Adriana Küchler
março/2004

Parece assunto de filosofia, espiritismo ou lenda urbana, mas o título do filme 21 Gramas, do mexicano Alejandro González Iñárritu, vem mesmo é de um experimento real, feito em 1907 por um cientista esquisitão, desses que não se encontram todo dia. Para tentar provar que a alma existe e tem peso, o médico americano Duncan MacDougall, de Massachusets, pesou seis pessoas antes e depois de morrerem e constatou que o ponteiro da balança quase sempre caía.

O instrumento de trabalho de MacDougall era como uma enorme balança de dois pratos. De um lado, ficava o paciente em estado terminal, deitado em uma cama. Do outro, o doutor colocava pesos equivalentes.

A primeira cobaia do doutor foi um homem com tuberculose, que ficou sob observação durante 3 horas e 40 minutos. Nesse tempo, ele perdeu peso aos poucos, em média 28 gramas por hora. E, de repente, o sujeito morreu. Segundo o médico, o prato da balança subiu, registrando a perda dos famosos 21 gramas. “No instante em que a vida parou, o lado oposto caiu tão rápido que foi assustador”, disse o médico ao jornal The New York Times.

Mas o peso registrado nos outros pacientes foi diferente. O segundo teria perdido 46 gramas. O terceiro, 14 gramas e, alguns minutos depois, mais 28. Com outro, o ponteiro da balança desceu e depois subiu de novo. Segundo o médico, a diferença tinha a ver com o temperamento de cada um. “Um dos homens era apático, lento no pensamento e na ação. Nesse caso, acredito que a alma ficou suspensa no corpo, depois da morte, até se dar conta de que estava livre.”

Para comprovar sua teoria, MacDougall fez o mesmo teste com 15 cachorros e nenhum deles teria perdido um grama sequer. Conclusão: homens têm alma, cachorros não. Será que existe alguma verdade nos estudos de MacDougall? “Não”, afirma o autor do livro Morte ao Pó: O que Acontece com os Cadáveres?, Kenneth V. Iserson, da Universidade do Arizona.

Iserson chama a atenção para o fato de o ar ter peso, coisa que MacDougall não levou em conta, e diz que não existe “o” momento da morte. “O processo pode se esticar por dias ou semanas.” Mesmo com todas essas contradições, MacDougall é conhecido até hoje pelo seu experimento dos 21 gramas. No dia 16 de outubro de 1920, o The New York Times anunciava sua morte com o título “Ele pesou a alma humana”.

02/11/2014

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Acho que desde quando comecei a criar em dança busquei inspiração em obras de outros artistas. Passava os dias estudando arte e fazendo arte à partir destes estudos, quase isso. E acabei me aproximando de pessoas que também criavam assim, e foi ótimo. Mas SEGUINTE, neste sentido, pode ser considerada uma trégua. Um momento em que os assuntos da vida tomam conta, fincam raízes no próprio corpo e trazem outras danças.

Eu fiquei grávida e meu bebê nasceu prematuro. Tinha exatos 5 meses e 20 dias de gestação. Foi um baque. Daí passamos, Dani e eu, 5 meses dentro de uma UTI neonatal cuidando dele. Seu peso inicial de 750g foi para 620g nos primeiros dias. Eu cheguei a me questionar o quanto de matéria física era preciso para que uma pessoa resistisse à morte. E me lembrei do filme 21 Gramas, dirigido por Alejandro Gonzáles Iñárritu e escrito por Guillermo Arriaga, e concluí que estávamos em vantagem.

Corpo e vida mudados. Agora pense na explosão de uma casa, em câmera lenta, e também em todos os cacos/pedaços/células. Hoje, a imagem pode ser esta, dançando. Mas veja, não estou revelando um tema ou assunto coreográfico. Tratemos como um estímulo. Depois, quando souber melhor, explico.