16/12/2014

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abertura de processo / compartilhamento presencial / pequena ocupação / dança curta e improvisada / registro / plano sequência / frames

26.11.14












































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O Hubert Godart, acendendo luzes por aqui.

Um dos pontos é que quando eu me movimento, eu não invento o gesto. Eu me apoio sobre dados já inscritos, sobre coordenações já inscritas; vou modificar esse gesto já inscrito, mas vou utilizar muitos dados que já estão em potencial em minha própria organização corporal. A questão é como, em que nível eu posso inibir, ou, sem exagerar a função da inibição, pelo menos reorganizar os esquemas já existentes? É evidente que, na ordem da percepção, só percebo o que é permitido por meu dispositivo sensorial, com as lacunas ligadas à minha história e à minha “função simbólica”[1].

(Buracos Negros: Uma Entrevista com Hubert Godart, por Patricia Kuypers, tradução de Joana Ribeiro da Silva Tavares e Mario Olsson-Forsberg)




[1] Na teoria de Piaget, a “função simbólica” é o conceito usado para designar a faculdade mental que possibilita diferenciar o significante do significado; é o que nos permite representar os objetos ou os acontecimentos fora do nosso campo de percepção atual.

10/12/2014

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Da história. 
Do olhar pra frente, pra trás, pros lados. 

Do livro História do Corpo, cap 3, escrito por Annie Suquet.

O silêncio e a imobilidade são as condições primeiras dessa atenção nova aos “rumores do ser”. “Ouçamos as batidas de nosso coração, o sussurrar e o murmurejar de nosso próprio sangue”[1], preconiza Mary Wigman, pioneira da moderna dança alemã. Quanto à respiração, é ela que “comanda silenciosamente as funções musculares e articulares”, continua a bailarina. Da mesma forma, a amplitude e a velocidade dos movimentos do bailarino são o efeito da “potência dinâmica do fôlego que se revela no grau de intensidade e de tensão do momento”[2]. O alternar-se da inspiração e da expiração fornece aos bailarinos a matriz dos princípios de tensão/relaxamento, com a promessa de múltiplas interpretações e evoluções ao longo de todo o século XX. Abre igualmente o caminho para a tomada de consciência de um espaço intracorporal plástico, simultaneamente volumétrico e direcional: pela respiração, o corpo se dilata e se contrai, se estira e se encolhe. Deste modo se produz a relação encadeada e contínua entre o espaço interior e o espaço exterior. O fôlego tece o ostinato de toda mobilidade. A oscilação, a ondulação o traduzem com movimentos reflexos. A “dança involuntária” de Isadora Duncan aspira ao fluxo e refluxo autônomo da onda. “Toda energia - escreve a bailarina em 1905 - se exprime através dessas ondulações. Todos os movimentos naturais e livres parecem conformar-se a esta mesma lei”[3]. E a bailarina então extrapola: “Vejo ondas cobrindo todas as coisas. Quando vemos árvores submetidas aos caprichos do vento, não parece que elas também se conformam às linhas das ondas? [...] Aliás, os sons, e até a luz, não se propagam também como ondas? [...] E o vôo das aves [...], e o salto dos animais”[4].





[1]   WIGMAN. M. Le langage de la danse. Paris: Chiron, 1990, p. 17 [1ª ed., 1963].
[2]   Lbid., p. 16. Para uma bela e fina análise da dança de Mary Wigman e de sua técnica, cf. LAUNAY, I. À la recherche d'une dance moderne, - Rudolf Laban-Mary Wigman. Paris: Chiron. 1996.
[3]   DUNCAN, I. “O bailarino e sua natureza”. La dance de I’avenir. Bruxelles: Complexe, 2003, p. 64.
[4]   Ibid.

03/12/2014

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Pôr-se ali, na percepção do próprio corpo, não é novidade, tampouco uma ação desnecessária. E tenho feito assim, quase imóvel, em pé, ou deitada, atenta ao contínuo fluxo/movimento/vida que me atravessa. E percebo que é gordo o caldo de informações que passa. Do ESPAÇO, contaminado por subjetividades, ao TOPOS, geografia concreta, real, na qual o corpo está inserido.[1] Minha atenção é concentrada e de pouco ar, agora. Talvez mude com a constância da prática, mas não tenho me preocupado com isso. Até fico surpresa em notar que a ansiedade está sendo posta de lado; outro dia saí da sala de trabalho e pensei assim “curioso como não estou com pressa”. O que depois vi que pode ser mais uma das preciosidades que tenho aprendido com o meu filho. Nos nossos 5 meses de UTI, por exemplo, eu podia ter tudo, menos pressa. E até hoje, seu tempo de desenvolvimento é tão único, incomparável ao de outros bebês, que só me resta a calma. Mas, enfim, quando fico ali, quase imóvel, percebendo o corpo, o ESPAÇO, o TOPOS, assim como a corrente sanguínea, a pele, os pulmões, eu estou dançando. Pode parecer que não, mas estou dançando.









[1] Distinção apresentada por Hubert Godart, pesquisador do movimento.