Da história.
Do olhar pra frente, pra trás, pros lados.
Do livro História do Corpo, cap 3, escrito por Annie Suquet.
O silêncio e a imobilidade são as
condições primeiras dessa atenção nova aos “rumores do ser”. “Ouçamos as
batidas de nosso coração, o sussurrar e o murmurejar de nosso próprio sangue”,
preconiza Mary Wigman, pioneira da moderna dança alemã. Quanto à respiração, é
ela que “comanda silenciosamente as funções musculares e articulares”, continua
a bailarina. Da mesma forma, a amplitude e a velocidade dos movimentos do
bailarino são o efeito da “potência dinâmica do fôlego que se revela no grau de
intensidade e de tensão do momento”. O
alternar-se da inspiração e da expiração fornece aos bailarinos a matriz dos
princípios de tensão/relaxamento, com a promessa de múltiplas interpretações e
evoluções ao longo de todo o século XX. Abre igualmente o caminho para a tomada
de consciência de um espaço intracorporal plástico, simultaneamente volumétrico
e direcional: pela respiração, o corpo se dilata e se contrai, se estira e se
encolhe. Deste modo se produz a relação encadeada e contínua entre o espaço
interior e o espaço exterior. O fôlego tece o ostinato de toda mobilidade. A
oscilação, a ondulação o traduzem com movimentos reflexos. A “dança
involuntária” de Isadora Duncan aspira ao fluxo e refluxo autônomo da onda.
“Toda energia - escreve a bailarina em 1905 - se exprime através dessas
ondulações. Todos os movimentos naturais e livres parecem conformar-se a esta
mesma lei”. E a
bailarina então extrapola: “Vejo ondas cobrindo todas as coisas. Quando vemos
árvores submetidas aos caprichos do
vento, não parece que elas também se conformam às linhas das ondas? [...]
Aliás, os sons, e até a luz, não se propagam também como ondas? [...] E o vôo
das aves [...], e o salto dos animais”.