Pesquisa prêmio oportunidade, com a vantagem de não ter que
começar, ou terminar, só ser ali, indo, mergulhando num rio que não para, no
desenho e redesenho das margens, no corpo mudado, com mudas. Percebendo uma
dança esgarçada, lenta, na frequência daquilo que vivi com o meu filho, da
coisa sem nome na carne. Coração acalmado. E agradecido.
09/03/2015
03/03/2015
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Porque às vezes a gente lê uma coisa e essa coisa toca na gente.
Igual mão.
O gesto tem a característica da concentração no momento da oração. Fusão das polaridades, do direito e do esquerdo, do que era e do que está sendo. Dar-se as mãos a si mesma: muito prazer em conhecer-nos, eu vou bem obrigada, este é o meu momento, eu sou solitária, aceito ser um “ser" só, posso dar também as mãos ao outro, estendê-las ao seu alcance, convidá-lo a uma comunicação.
(no Breviário sobre o corpo, da Lygia Clark)
20/02/2015
18/02/2015
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Da Orides Fontela
MEIO-DIA
Ao meio-dia a vida
é impossível.
A luz destrói os segredos:
a luz é crua contra os olhos
ácida para o espírito.
A luz é demais para os homens.
(Porém como o saberias
quando vieste à luz
de ti mesmo?)
Meio-dia! Meio-dia!
A vida é lúcida e impossível.
(Otto nasceu ao meio-dia).
11/02/2015
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Do que passa
pela cabeça, sem filtros
SEGUINTE
continua uma história. A história da tal busca
por uma fisicalidade que começou no meu trabalho passado, onde me debrucei
sobre o que considerava inusitado pro meu corpo, quase que sobre uma dança
nunca dançada. É porque eu acredito nas danças únicas, de cada indivíduo, de cada
físico, e sempre penso nelas. Pra isso eu descobri certos padrões que eu
carregava de aulas e de coreografias das quais fui intérprete e quebrei tudo.
Descontruí, como dizem. Tudo no âmbito das formas, porque alguma coisa além das
formas fica, salve! E acabei elaborando uma dança atenta à tridimensionalidade,
ao encadeamento muscular e à musicalidade do corpo e dos gestos. Também deixei
de compor uma sequencia de movimentos a
ser reproduzida em cena, optando
por um fazer entre a composição e o improviso. E tudo isso continua, mas acredito
que entrou um novo pilar nessa construção toda, uma coisa que tenho chamado de frequência. Estou bem grudada nela, essa
é a verdade. Enquanto danço, existe agora um ar constante, modulável, mas
permanente. E das formas que o corpo vai adquirindo, durante o fazer, ainda não
sei distinguir as que interessam das que não, também tenho preferido usar a
palavra design ao invés de forma. Isso porque, no pouco
conhecimento que tenho sobre o assunto, percebo que design é mais do que o
desenho das coisas, é um conceito mais uma função. Nossa, agora ficou
difícil, não tenho cacife pra me aprofundar. Bem, muito resumidamente, eu só
queria dizer que a fisicalidade descoberta no meu último trabalho continua,
mas, me parece, que a dança vem mudando de tom.
Acho que é isso.
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Anotação do Daniel
5. Uma frase apenas e Anton Webern. Essas duas considerações interessantes feitas pelo Artur numa conversa após uma das aberturas de processo me chamaram a atenção, principalmente porque também já me remetia ao Webern, as suas peças para orquestra e suas atmosferas cheias de densidade. Ouvi as "Seis peças para orquestra, Opus 6", e a quarta peça me chamou bastante atenção, acho que pelo fato do pedal na percussão do início ao fim da peça dar a sensação de um acúmulo de energia, de uma condensação de tensões, liberadas num gesto final no fim da peça, como aconteceu na última abertura, quinta-feira passada. Tem também, aos meus olhos e ouvidos, algo que afina aos momentos nos quais a gravidade e o tempo parecem serem remodelados, quando a estrutura arquitetônica corporal parece prestes a despencar, pender, causando em mim o susto do exato instante anterior a uma queda, que nunca acontece. O movimento é sempre conduzido.
O Anton Webern foi um compositor austríaco da Segunda Escola de Viena liderada por Arnold Schonberg. Reconhecido pelas inovações rítmicas, timbrísticas e dinâmicas que formaram o estilo musical conhecido como serialismo. O Artur Kon é ator, integrante da Cia de Teatro Acidental, de São Paulo.
03/02/2015
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Eis que entro na sala de trabalho e me deparo com isso, obrigada acaso, achei tudo a ver o design SEGUINTE.
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Das organizações
Das clareiras teóricas, dos borrões práticos
Mais uma vez o Godart em conversa com a Kuypers
PK: Com tanto tempo ensinando, você tem o sentimento de que está
construindo uma teoria?
HG: Eu não sei se é uma teoria, mas, certamente, trata-se de um
acúmulo de experiências que encontram seu sentido comum na eficiência
pedagógica do pensamento do gesto. Essas experiências circulam ao redor de um
fundo geral que se articula na exploração do espaço de ação.
PK: Você pode descrever o esqueleto desse pensamento?
HG: O mais fácil é dividir o conjunto em quatro áreas de
atividade que operam sobre quatro modalidades estruturais de um indivíduo em
movimento e abrem quatro campos de competências.
● A estrutura
corporal, que é constituída pelo corpo como matéria e pode proporcionar um
conjunto de intervenções tais como a osteopatia, o rolfing, a fisioterapia,
etc., as técnicas manuais em seu todo. A economia dessa estrutura é da ordem
da mecânica newtoniana e atua na espacialidade e na plasticidade dos elementos
corporais.
● A estrutura
cinética, o conjunto das coordenações, das musicalidades, dos hábitos
gestuais, que formam uma memória que define a própria maneira de cada um se
movimentar. Trata-se de uma economia neurofisiológica que atua sobre o espaço
e a temporalidade do movimento, apoiando-se num esquema corporal de
referência. Um conjunto de técnicas do corpo torna-se eficiente neste campo,
tais como as de Feldenkrais, Mathias Alexander, a Ideokinesis, etc.
● A estrutura
“estésica”, a do movimento das percepções, compõe em cada um de nós um
modo singular de perceber, que tende para a formação de uma imagem do corpo
numa economia estética. Essas grades de leitura, essas matrizes da
sensibilidade que se constituem na história, na linguagem e na cultura
próprias de cada um, formam uma memória radical da nossa relação com o
mundo. O ateliê de dança, de improvisação, as artes em geral, várias
técnicas do corpo questionam essa memória.
● A estrutura
simbólica, o sentido, que é do domínio da psicologia, da economia libidinal,
da linguagem, forma um campo que também permite outra entrada da imagem do
corpo, a que se refere ao inconsciente.
É muito evidente que estas categorias são somente teóricas e
não circunscrevem um indivíduo, mas são campos de competências, de
conhecimentos, que pude atravessar nessa pesquisa sobre o gesto. O fio
condutor, que liga cada uma destas estruturas, destas modalidades de memória,
e que constitui um pouco o centro de minhas pesquisas sobre o movimento, é a
questão da postura (com seu corolário da relação com a gravidade) como
cristalização das atitudes acumuladas em nossa relação com o mundo. É,
então, a questão do pré-movimento como lugar de renegociação possível de
nossos hábitos. Este pré- movimento, que se apóia no esquema postural,
antecipa todas as nossas ações, as nossas percepções, e serve de pano de
fundo, de tensor de sentido para essa figura que é o gesto.
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