20/02/2015

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apresentação da pesquisa / dança não tão curta e não tão improvisada / luz do meio-dia / registro / frames

19.02.15






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O psoas puxa a perna e mais outro pedaço e revela o burro. Sorte. 
Só o corpo sabe de tudo.

18/02/2015

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Da Orides Fontela



MEIO-DIA

Ao meio-dia a vida
é impossível.

A luz destrói os segredos:
a luz é crua contra os olhos
ácida para o espírito.

A luz é demais para os homens.
(Porém como o saberias
quando vieste à luz
de ti mesmo?)

Meio-dia! Meio-dia!
A vida é lúcida e impossível.



(Otto nasceu ao meio-dia).

11/02/2015

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Do que passa pela cabeça, sem filtros

SEGUINTE continua uma história. A história da tal busca por uma fisicalidade que começou no meu trabalho passado, onde me debrucei sobre o que considerava inusitado pro meu corpo, quase que sobre uma dança nunca dançada. É porque eu acredito nas danças únicas, de cada indivíduo, de cada físico, e sempre penso nelas. Pra isso eu descobri certos padrões que eu carregava de aulas e de coreografias das quais fui intérprete e quebrei tudo. Descontruí, como dizem. Tudo no âmbito das formas, porque alguma coisa além das formas fica, salve! E acabei elaborando uma dança atenta à tridimensionalidade, ao encadeamento muscular e à musicalidade do corpo e dos gestos. Também deixei de compor uma sequencia de movimentos a ser reproduzida em cena, optando por um fazer entre a composição e o improviso. E tudo isso continua, mas acredito que entrou um novo pilar nessa construção toda, uma coisa que tenho chamado de frequência. Estou bem grudada nela, essa é a verdade. Enquanto danço, existe agora um ar constante, modulável, mas permanente. E das formas que o corpo vai adquirindo, durante o fazer, ainda não sei distinguir as que interessam das que não, também tenho preferido usar a palavra design ao invés de forma. Isso porque, no pouco conhecimento que tenho sobre o assunto, percebo que design é mais do que o desenho das coisas, é um conceito mais uma função. Nossa, agora ficou difícil, não tenho cacife pra me aprofundar. Bem, muito resumidamente, eu só queria dizer que a fisicalidade descoberta no meu último trabalho continua, mas, me parece, que a dança vem mudando de tom. Acho que é isso.


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Anotação do Daniel


5. Uma frase apenas e Anton Webern. Essas duas considerações interessantes feitas pelo Artur numa conversa após uma das aberturas de processo me chamaram a atenção, principalmente porque também já me remetia ao Webern, as suas peças para orquestra e suas atmosferas cheias de densidade. Ouvi as "Seis peças para orquestra, Opus 6", e a quarta peça me chamou bastante atenção, acho que pelo fato do pedal na percussão do início ao fim da peça dar a sensação de um acúmulo de energia, de uma condensação de tensões, liberadas num gesto final no fim da peça, como aconteceu na última abertura, quinta-feira passada. Tem também, aos meus olhos e ouvidos, algo que afina aos momentos nos quais a gravidade e o tempo parecem serem remodelados, quando a estrutura arquitetônica corporal parece prestes a despencar, pender, causando em mim o susto do exato instante anterior a uma queda, que nunca acontece. O movimento é sempre conduzido.


O Anton Webern foi um compositor austríaco da Segunda Escola de Viena liderada por Arnold Schonberg. Reconhecido pelas inovações rítmicas, timbrísticas e dinâmicas que formaram o estilo musical conhecido como serialismo. O Artur Kon é ator, integrante da Cia de Teatro Acidental, de São Paulo. 



03/02/2015

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Eis que entro na sala de trabalho e me deparo com isso, obrigada acaso, achei tudo a ver o design SEGUINTE.




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Das organizações
Das clareiras teóricas, dos borrões práticos

Mais uma vez o Godart em conversa com a Kuypers


PK: Com tanto tempo ensinando, você tem o sentimento de que está construindo uma teoria?

HG: Eu não sei se é uma teoria, mas, certamente, trata-se de um acúmulo de experiências que encontram seu sentido comum na eficiência pedagógica do pensamento do gesto. Essas experiências circulam ao redor de um fundo geral que se articula na exploração do espaço de ação.

PK: Você pode descrever o esqueleto desse pensamento?

HG: O mais fácil é dividir o conjunto em quatro áreas de atividade que operam sobre quatro modalidades estruturais de um indivíduo em movimento e abrem quatro campos de competências.

● A estrutura corporal, que é constituída pelo corpo como matéria e pode proporcionar um conjunto de intervenções tais como a osteopatia, o rolfing, a fisioterapia, etc., as técnicas manuais em seu todo. A economia dessa estrutura é da ordem da mecânica newtoniana e atua na espacialidade e na plasticidade dos elementos corporais.

● A estrutura cinética, o conjunto das coordenações, das musicalidades, dos hábitos gestuais, que formam uma memória que define a própria maneira de cada um se movimentar. Trata-se de uma economia neurofisiológica que atua sobre o espaço e a temporalidade do movimento, apoiando-se num esquema corporal de referência. Um conjunto de técnicas do corpo torna-se eficiente neste campo, tais como as de Feldenkrais, Mathias Alexander, a Ideokinesis, etc.

● A estrutura “estésica”, a do movimento das percepções, compõe em cada um de nós um modo singular de perceber, que tende para a formação de uma imagem do corpo numa economia estética. Essas grades de leitura, essas matrizes da sensibilidade que se constituem na história, na linguagem e na cultura próprias de cada um, formam uma memória radical da nossa relação com o mundo. O ateliê de dança, de improvisação, as artes em geral, várias técnicas do corpo questionam essa memória.

A estrutura simbólica, o sentido, que é do domínio da psicologia, da economia libidinal, da linguagem, forma um campo que também permite outra entrada da imagem do corpo, a que se refere ao inconsciente. 

É muito evidente que estas categorias são somente teóricas e não circunscrevem um indivíduo, mas são campos de competências, de conhecimentos, que pude atravessar nessa pesquisa sobre o gesto. O fio condutor, que liga cada uma destas estruturas, destas modalidades de memória, e que constitui um pouco o centro de minhas pesquisas sobre o movimento, é a questão da postura (com seu corolário da relação com a gravidade) como cristalização das atitudes acumuladas em nossa relação com o mundo. É, então, a questão do pré-movimento como lugar de renegociação possível de nossos hábitos. Este pré- movimento, que se apóia no esquema postural, antecipa todas as nossas ações, as nossas percepções, e serve de pano de fundo, de tensor de sentido para essa figura que é o gesto.