01/02/2017

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No água viva, a Clarice Lispector:

Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa não-palavra - a entrelinha - morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra ao morder a isca, incorporou-a. O que salva então é escrever distraidamente.

Aqui, trocando escrever por dançar e palavra por movimento:

Então dançar é o modo de quem tem o movimento como isca: o movimento pescando o que não é movimento. Quando esse não-movimento - a entrelinha - morde a isca, alguma coisa se dançou. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar o movimento fora. Mas aí cessa a analogia: o não-movimento ao morder a isca, incorporou-o. O que salva então é dançar distraidamente.

E continuo a pensar sobre a linguagem falar linguagem, inevitavelmente.




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