No água viva, a Clarice
Lispector:
Então
escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não
é palavra. Quando essa não-palavra - a entrelinha - morde a isca, alguma coisa
se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ia com alívio jogar a
palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra ao morder a isca,
incorporou-a. O que salva então é escrever distraidamente.
Aqui, trocando
escrever por dançar e palavra por movimento:
Então dançar é
o modo de quem tem o
movimento como isca: o movimento pescando o que não é movimento. Quando esse não-movimento - a entrelinha - morde a isca, alguma coisa se dançou. Uma vez que se pescou a entrelinha,
poder-se-ia com alívio jogar o
movimento fora. Mas aí cessa a
analogia: o não-movimento ao
morder a isca, incorporou-o. O que salva então é dançar distraidamente.
E continuo a
pensar sobre a linguagem falar linguagem, inevitavelmente.
Dançar é por um pouco ser mais alma do que corpo.
ResponderExcluirGK